A façanha improvável de um casal de treinadores de Leiria

Os Mundiais de atletismo estão a começar em Eugene, nos Estados Unidos da América, e Leiria, além de vários atletas, marca presença na prova com uma dupla invulgar.

Não sabemos se será facto inédito, mas incomum será com certeza: esposo e esposa participarem na prova, não como atletas, o que até é vulgar, mas como treinadores. Senhoras e senhores, eis Cátia Ferreira e Paulo Reis.

Quando ele fundou, com um grupo de amigos, a Juventude Vidigalense, dificilmente imaginaria que era uma atitude que tantas e tantas consequências lhe traria.

Naquele momento, já lá vão mais de três décadas e meia, estava a criar aquele que viria a transformar-se no melhor clube de formação de atletismo em Portugal, mas também as bases para a profissão que viria a abraçar de forma apaixonada e, até, já que falamos de paixão, o amor da sua vida.

Cátia Ferreira foi, de resto, uma das primeiras atletas relevantes do clube de Leiria. Dividia-se entre os sprints e os saltos horizontais e ao contrário do futuro marido, que sempre se destacou mais pelas indicações do que pelas performances, chegou a representar Portugal.

É, ainda hoje, a 40.ª melhor lusa de sempre no salto em comprimento, com 5,88 metros.

Foi, inclusive, orientada por Paulo Reis nos primórdios, antes de este se dedicar de forma exclusiva ao treino do setor de lançamentos.

Quando terminou a carreira, Cátia Ferreira acabou por seguir os passos do marido e no ano passado, em Tóquio, marcou presença, pela primeira vez, nuns Jogos Olímpicos com a atleta Evelise Veiga, na quinta edição em que o esposo alcançou tal feito, primeiro com Vânia Silva, depois com Irina Rodrigues e no Japão com Auriol Dongmo, que ficou a cinco centímetros da medalha de bronze na prova de lançamento do peso.

A foto ilustra esse momento. Foi o concretizar de um sonho comum e a consumação da certeza de que naquela casa não há um treinador de excelência, há dois treinadores de excelência.

Curiosamente, nem é muito normal cruzarem-nos nos afazeres desportivos do dia a dia. Ela treina salto em comprimentos e triplo salto, por hábito na pista de tartan e ginásio do Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa. Já ele move-se mais pelas instalações do Centro Nacional de Lançamentos.

No entanto, em casa, o assunto é quase sempre o mesmo para o casal de treinadores. Sim, esse mesmo. “Fala-se até demais”, admite o treinador de Auriol Dongmo e Tsanko Arnaudov.

“Até às refeições, invariavelmente, a conversa vai ter ao atletismo. De tal forma que a nossa filha às vezes diz: ‘por favor, parem de falar de atletismo’. Já saturou: não vai ser atleta nem treinadora. Não é por mal, mas como vivemos com paixão, por mais que não queiramos, a conversa vai lá bater.”

Cátia admite que apesar dos currículos ainda díspares – ou não fosse o marido campeão europeu e mundial de pista coberta de lançamento de peso com Auriol Dongmo – há uma “competitividade saudável”.

“Tentamos superiorizar-nos em pequenas coisas, como no número de atletas no treino ou de medalhas que os nossos atletas conseguem em determinada prova.”

Mais a sério, não tem dúvidas em afirmar que o marido é uma inspiração pela “capacidade de liderança”, “gestão de todo o processo de treino” e “entrega à modalidade”.

“O Paulo é exigente e tenta estabelecer metas para o meu trabalho. Ajudamo-nos mutuamente e ele diz que tenho tudo para ser melhor treinadora do que ele, mas é a modéstia dele a falar.”

Comentários

  • Paulo Carreira
    14 Julho, 2022 @ at 22:11

    Pessoas fantásticas, merecem momentos igualmente fantásticos!

  • Paulo Carreira
    14 Julho, 2022 @ at 22:12

    Pessoas fantásticas, merecem momentos fantásticos!

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